Tenho constatado que esse é um tema bastante controverso no seio da cristandade hodierna. Talvez o que tem gerado um entendimento, ou quem sabe, uma distorção desse tema, seja a malfadada Teologia da Prosperidade, doravante denominada de TP.
A pergunta que precisamos discutir é, o que é prosperidade bíblica, e o que é prosperidade na TP? Vamos começar do começo, é claro! Prosperidade bíblica tem a ver com as bênçãos de Deus derramadas sobre a vida do seu povo no decorrer da sua relação com eles. Isso pode ser percebido em passagens como Dt. 15.4,5: "Entretanto, não haverá pobre algum no teu meio (pois o SENHOR certamente te abençoará na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá por herança para possuíres), desde que ouças com atenção a voz do SENHOR, teu Deus, cuidando para cumprir todo este mandamento que hoje te ordeno". Desde que se respeite o contexto que essa passagem se encontra, uma vez que o verso anterior explica claramente o que o final do verso 5 diz: "cuidando para cumprir todo este mandamento que hoje te ordeno", isso remete ao mandamento do versos 1- 3 que dizem: " No fim de cada sete anos, praticarás o perdão das dívidas. Procederás deste modo: todo credor perdoará o que tiver emprestado ao próximo; nada exigirá do seu próximo ou do seu irmão, pois é proclamado o perdão do SENHOR. Poderás exigi-lo do estrangeiro, mas tu* perdoarás o que te pertencer e estiver em poder do teu irmão". A prosperidade em tela aqui, está claramente atrelado a duas coisas. Primeiro, é uma prosperidade restrita a terra prometida e ao povo de Deus, desde que eles sejam cumpridores das suas obrigações com os necessitados, pois Dt.15.7,8, fala de forma elucidativa sobre isso: " Quando algum de teus irmãos for pobre, em qualquer das cidades na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá, não endurecerás o coração, nem fecharás a mão para teu irmão pobre; pelo contrário, abrirás a mão para ele e certamente lhe emprestarás o que ele precisa, o suficiente para a sua necessidade. Cuidado para que não tenhas pensamento mau no coração e venhas a dizer: Está se aproximando o sétimo ano, o ano do perdão; que o teu olhar não seja maligno para com teu irmão pobre, fazendo com que não lhe dês nada; e ele clame contra ti ao SENHOR, e haja pecado em ti". Talvez temos aqui uma resposta bem interessante ao verso 25 do salmo 37, "Já fui moço, e agora estou velho; mas nunca vi o justo desamparado, nem seus descendentes a mendigar o pão". Se aceitarmos esse princípio como válido para melhor entendermos o verso 25 do salmo 37, as nossas frustrações serão bem menos causticante, uma vez que há muitos cristãos sinceros, piedosos e tementes a Deus padecendo necessidades extremas.
Partindo para os ensinamentos do Novo Testamento, não vemos esse tema sendo trabalhado em profusão, como o temos no Antigo Testamento. Mas algumas passagens são importantes para clarificar o tema. O texto mais emblemático é o de Jesus com o jovem rico relatado pelos evangelhos sinóticos. Em Lc.18.22,23, temos a seguinte mensagem: "[...] Vende tudo quanto tens, reparte com os pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me. Mas, ouvindo isso, ele ficou muito triste, porque era muito rico". Somos informados pelo final do verso 23, que foi o apego as riquezas que fez com que o jovem saísse triste. Será que é a partir daí que temos que nos preocupar, que nem sempre riqueza financeira é sinônimo de bênção de Deus, principalmente quando elas são colocadas acima de Deus e do próximo?
Não quero ser radical ao ponto de dizer que as pessoas por serem ricas financeiramente não vão para o céu, assim como as que são pobres, e principalmente, as que vivem em estado de vulnerabilidade social, herdarão o Reino de Deus. Apenas alerto para o perigo de se fazer associações indevidas com a palavra de Deus!
Deus pode, e eu acredito que Ele quer isso para os seus filhos, nos fazer pessoas prósperas em muitas áreas da nossa vida. Até porque o seu desejo como vimos em Dt.15.7 é " Entretanto, não haverá pobre algum no teu meio [...]", passagem corroborada pelo profeta Isaías em 1.19, "Se estiverdes prontos a ouvir, comereis o melhor desta terra;", sempre devemos colocar esses textos no campo da aliança da terra prometida, mas que se torna um princípio válido e aplicavél para todas as eras, é o que eu entendo. Desde que as minhas posses, como bênçãos de Deus, sejam compartilhadas com os que tem necessidade! Será que isso é algo recorrente na igreja hoje em dia?
No outro extremo, temos a TP com a sua lamentável postura diante desse tema. Quando analisamos a prosperidade bíblica, frente ao que a TP faz, vemos muitas incongruências com a palavra de Deus. Só para termos uma ideia, há um livro de Edir Macedo intitulado "Aliança com Deus", só o título é bem instigador. Nas páginas 16,17 ele faz uma explanação na tentativa de explicar a atitude desprendida da viúva pobre de Mc.12.44. Assim ele explica a atitude dessa viúva: "[...] Se ela estava dando o seu tudo, é porque, certamente, tinha fé de que o Senhor iria lhe DEVOLVER multiplicado! [...] A viúva revelou a Deus a sua fé, porque se ela não tivesse a certeza de que Aquele a quem estava dando o seu tudo era suficientemente poderoso para suprir todas as suas necessidades, não teria dado nada. Muito pelo contrário, teria pedido!"(ênfase acrescentada). Uau, que interpretação! Por que esse tipo de atitude diante do texto é corroborada por muitos hoje em dia? Talvez, me arrisco a dizer, por causa da vontade de que Deus preencha obrigatoriamente os anseios egoístas dos ofertantes, que ofertam achando que Deus é obrigado a MULTIPLICAR o que eles colocaram no atar. Essa é uma prática que certamente Deus não exige de nós hoje, até porque, Jesus não usou isso como cavalo de batalha para granjear riquezas para si, nem muitos menos fomentar essa prática na vida de ninguém.
Quero encerrar essa questão aqui, fazendo uso das palavras de Craig Blomberg, registradas no seu livro "Nem Pobreza, Nem Riqueza", que nos ensina como devemos portar diante das bênçãos financeiras que Deus, porventura, venha nos conferir, e sobretudo, no que concerne o perigo de o dinheiro ocupar o nosso coração: "[...] Em nenhum caso, o dinheiro para o ministério - ou a expectativa de remuneração razoável - é condenado. Porém, quando o desejo de recompensa material torna-se uma aliança que pode ser descrita como "amor", passa a ser vergonhoso e causa desgraça" (Nem Pobreza, Nem Riqueza, Ed. Esperança, p.207).
Não é pecado possuir uma bela mansão, um carro de luxo, conta bancária polpuda e etc, mas se essas coisas ocupam o seu coração e é um alvo que você acha que Deus é obrigado a dar, mediante a sua atitude de ofertante, comece a refletir para ver se você não está sendo levado pela sua viu concupiscência da vida.
Que Deus nos ajude a fugir das preocupações exacerbadas com as riquezas, ou seja, ao vil metal precioso, pois fazendo assim alguns, como diz o apóstolo Paulo, "e por causa dessa cobiça alguns se desviaram da fé e se torturaram com muitas dores", 1Tm.6.10b.
*AACO
Olá Angelo
ResponderExcluirDeus te abençoe!
Parabéns pelo texto, na realidade o “EVANGELHO” da Prosperidade e da Confissão Positiva não é o evangelho que Cristo, Paulo e os apóstolos pregavam. Ah! Como está distante! O Evangelho de Cristo era pão que alimenta a alma e da vida ao homem, totalmente diferente deste evangelho utilitarista pregado pelos mestres do engano.
Angelo a grande verdade é que a Teologia da Prosperidade afastou-se da velha e boa ortodoxia histórica, trocando os valores cristãos que são verticais por coisas triviais horizontais. Hoje aquelas virtudes cardeais como humildade, sabedoria, simplicidade, já não são mais buscadas o que vale é ter dinheiro. Eu me auto-excomungo deste movimento “evangélico” de barganha com Deus, eles querem as benesses de Deus, mas não querem o Deus das benesses. Tenho náuseas da “unção” financeira. Não quero esta “unção” nem me pagando. Prefiro o Espírito Santo com seus frutos. Um forte abraço!
Verdade pr. Joaquim, o senhor tem sido uma fonte de inspiração para que eu me envolva nesse projeto de defesa do evangelho contra essa miserável TP. Infelizmente muitas pessoas tem sido levadas por esse movimento, gerador de confusão e controvérsias das mais infames.
ResponderExcluirEstou correndo a distância dessa tristeza, que tem ocupado o cenário nacional.